Pensar Piauí

Espião que espiona espião também tem cem anos de perdão?

Bolsonaro sempre confiou apenas em si mesmo e, no máximo, em seus filhos da política

Foto: Adriano MachadoBolsonaro e Heleno
Bolsonaro e Heleno

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook 

O general Augusto Heleno contou, na reunião ministerial de 5 de julho de 2022, que pretendia infiltrar agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na campanha de Lula. Mal sabia que ele mesmo tinha sido alvo de monitoramento pelos próprios subordinados. Espião que espiona espião também tem cem anos de perdão? Há quem torça por isso.

A informação de que seu telefone funcional foi arapongado pelo programa israelense First Mile, que rastreia a movimentação, foi revelada por Renata Agostini, no jornal O Globo, nesta quarta (27). Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ele mandava no chefe da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio. Mandava em tese, claro.

Paranoico, Bolsonaro sempre confiou apenas em si mesmo e, no máximo, em seus filhos da política. Por isso, alertei aqui em janeiro que iríamos descobrir um sem número de aliados entre as vítimas da arapongagem. A vigilância sobre Augusto Heleno, um de seus conselheiros mais próximo confirma isso.

Mas também abre uma questão: se o seu governo foi capaz de espionar o general, que era tido como seu BFF, imagine então outros aliados?

Uma pista disso já havia sido dada quando, em 23 de fevereiro, descobrimos que, entre os espionados pela Abin paralela estavam o então youtuber e hoje deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e um ex-assessor de Bia Kicis (PL-DF) que participou de atos antidemocráticos em Brasília. Tanto Gayer quanto Kicis são considerados extremamente leais ao ex-presidente, tal como Augusto Heleno. Os nomes constaram em reportagem também de O Globo, como parte de uma lista de políticos, jornalistas, ambientalistas, caminhoneiros e acadêmicos que também foram espionados utilizando o First Mile.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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