Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Pesquisas à moda da causa

Foto: ReproduçãoPesquisa Eleitoral
Pesquisa Eleitoral

 

No contexto da política brasileira há muitos fatos curiosos que envolvem as eleições, dentre eles está a enxurrada de pesquisas de intenção de voto – umas sérias e outras pesquisas à moda da causa –, que influem na dinâmica de votação. As primeiras servem para orientar no planejamento dos partidos e as segundas se moldam ao gosto do freguês, à serviço de interesses escusos, isto é, não são confiáveis e constituem crime eleitoral.

O tema está disciplinado na Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições) e na Resolução nº 23.600/2019 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isto é, para ter validade todo levantamento de intenção de voto através de pesquisas, realizadas a partir de 1º de janeiro de 2024, deve ter prévio registro na Justiça Eleitoral antes da divulgação. Ressalte-se, porém, que a Justiça Eleitoral não realiza o controle prévio sobre o resultado das pesquisas nem se responsabiliza pela divulgação.

Durante o período eleitoral é notória a realização e a divulgação de inúmeras pesquisas eleitorais sérias e outras nem tanto, duvidosas ou falsas, mesmo considerando que a divulgação de pesquisas fraudulentas constitui um crime, punível com detenção de seis meses a um ano e multa. Tanto que, em muitos municípios a polícia investiga compartilhamento de pesquisa eleitoral supostamente falsa por funcionários de instituições públicas e privadas.

Empiricamente tem-se percebido que em muitos municípios brasileiros, as pesquisas eleitorais intermináveis ou as pesquisas à moda da causa têm chamado mais atenção, não pela qualidade dos dados aferidos, mas pela quantidade. Ao que parece, o objetivo não é diagnosticar a realidade de um momento político local, mas manipular o senso comum do eleitorado para interferir, de modo ilegal, na vontade popular, no pleito eleitoral e na disputa das candidaturas partidárias. 

No caso das “pesquisas à moda da causa”, além de mentirem e mascararem sobre a realidade dos fatos, burlam a lei, caloteiam quem paga e sabotam o pleito eleitoral. Por isso, são um desserviço público, agem contra a lisura na política e depreciam a democracia no país.

As “pesquisas à moda da causa” são como um “cardápio de feira”, que encantam os olhos da gula do freguês pela quantidade, mas não alimentam a fome do comensal por sabedoria política. Elas são como um manancial de água no deserto, que avistamos ao longe durante uma caminha exaustiva: uma ilusão. 

O objetivo das “pesquisas à moda da causa” é condicionar o eleitorado aos interesses espúrios do cliente comprador. Elas buscam sugar a completa atenção, fragmentar o senso crítico, manipular a decisão do voto coletivo e interferir no resultado das eleições, por meio de armadinhas matemáticas.

Porém, não devemos demonizar a Estatística por causa do seu mau uso nas “pesquisas à moda da causa”. Pois, a estatística (e os estatísticos) pode ser utilizada para o bem da coletividade – p.ex. solucionar problemas complexos; identificar comportamentos; descobrir os padrões de uma doença; testar hipóteses científicas; tendência de mercado etc.

As “pesquisas à moda da causa” são realizadas e divulgadas para que os eleitores e as eleitoras se identifiquem e sejam dominados pelo canto da sereia do irracional. Por isso, urge estarmos livres dos condicionamentos impostos pelas “pesquisas à moda da causa”, para que cultivemos uma sabedoria política e, assim, votarmos com lisura, convicção, consciência, clareza e serenidade.

Para tanto, em todo ano eleitoral, devemos ter atenção redobrada, pois todas as pesquisas de intenção de voto têm muitos propósitos subjacentes, seja para auscultar a vontade popular de forma quantitativa e/ou qualitativa ou, intecionalmente, induzir, iludir, calotear, enganar e domesticar o eleitorado.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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