Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

O prenúncio do fracasso

Foto: DivulgaçãoTempo integral
Tempo integral

 


O novo governo de Luis Inácio Lula da Silva (2023-2026), adotou a Educação (de Tempo) Integral no Brasil, como política pública para remodelar, inovar e transformar a educação. Mas, parafraseando Nicolau Maquiavel (1469-1527), ter uma boa ideia é bom, mas aquele que tem a boa ideia, e não está pronto para a sorte ruim, conspira contra a própria permanência no poder.

Corroboro com a implementação da Educação (de Tempo) Integral na rede nacional de ensino por ser uma proposta educacional necessária e muito ousada, levando-se em conta os postergados desafios que se apresentam ao longo da história da educação do país. Por um lado, o Brasil sequer conseguiu efetivar o direto fundamental à educação de todas as crianças e adolescentes.

O país ainda não superou as barreiras educacionais (p.ex. reprovação, distorção idade-série, abandono escolar) que afetam a permanência do alunado na escola de maneira desigual. E, por outro lado, existem municípios fechando escolas e contando com o silêncio do Ministério Público.

No Brasil, os projetos de Educação (de Tempo) Integral começaram com Anísio Teixeira (1950) e Darcy Ribeiro (1980), estimulados por diferentes experiências educacionais que articulam a pluralidade socioeducativa de educandos e profissionais da educação, vivenciadas dentro e fora da escola, a partir de uma intencionalidade que favorece as aprendizagens significativas.

A Educação Integral tem grandes desafios e somente produz resultados positivos, aceitação e liberdade social quando é entendida por todos os agentes envolvidos (profissionais, famílias e estudantes) no processo formativo do alunado. Para o educador Paulo Freire (1921 - 1997), “[...] quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.

O primeiro desafio é ter um centro de referência nacional em educação integral, com suporte em rede estaduais, para elaborar e desenvolver a política educacional, visando à formação inicial e continuada dos profissionais da educação.

Quando um gestor fala em “capacitação”, equivoca-se na suposição de que todos os profissionais da educação são cônscios dos princípios e da filosofia desse modelo educacional.

O segundo desafio é aceitar que a Educação Integral exige a construção de um modelo predial com infraestrutura adequada, com base nas características geoclimáticas de cada região do país para servir de piloto experimental. Pois, apenas reaproveitar e renomear os prédios públicos e obsoletos não é o mesmo que ter escolas de tempo integral, mas, somente espaços temporários de confinamento juvenil.

O terceiro desafio é mobilizar, informar, sensibilizar, articular e garantir a participação da sociedade civil na gestão pública de todo o processo de construção, transição, execução e avaliação da política pública de Educação Integral. Do contrário, será o mais do mesmo, para mascarar a secular desigualdade no acesso à educação pública de qualidade.

Para Miguel Arroyo, “a educação integral não é o mesmo que escola de tempo integral”. A Educação Integral entende o ser humano como um sujeito total, integral, de conhecimento, de cultura, de valores, de memórias, de éticas, de identidades e de imaginação. Cujo objetivo é a formação de sujeitos críticos, autônomos, sóbrios consigo e o mundo. A escola de tempo integral é um espaço para a livre criação e valorização dos saberes, fazeres e sentimentos expressos pelo universo simbólico e artístico.

Para Friedrich Nietzsche (1844-1900), “tudo que não nos mata nos torna mais fortes”. Assim, tenho a esperança.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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